12/03/2002

Esse poema aí é de um amigo o OZ .Como o considerei um um "Olá" bem bonito.Decici guardá-lo aqui.





Amor à lusitana em terras de Novo Mundo


"Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na Terra sempre triste."
Minhas lágrimas hão de cobrir toda a terra
Como a revelar tantos tristonhos lamentos
Nascidos do silêncio de tua partida,
Pois tamanha dor alma nenhuma consente,
Inda que seja a morte um eterno tormento,
Inda que a solidão, caminho de quem erra,
Faça-se, em cada aurora, claustro, despedida.
Minhas lágrimas, oh! que sejam para ti
Prova da devoção sempre incondicional
Com que meus olhos, sôfregos, te contemplavam.
Minhas lágrimas, restos de vida que escorrem
Da morada, onde, às vezes, Amor descansava,
Ia embora, porém - prometia - voltava.
Minhas lágrimas hão de cobrir toda a terra.
"Se lá no assento etéreo, onde subiste
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste."
Dizer adeus não pude, tampouco abraçar-te.
Bradar mil vezes, como eu quis! "Não não partas!"
Atirado ao martírio insone de tua ausência
Vago pelos melhores momentos vividos
Entre mim, espreitando até mesmo tua sombra,
E ti, a quem jurei levar ao himeneu.
Eis que não poderei cumprir meu juramento,
Que a etérea Providência ousou de mim levar-te, Deixando o fardo inglório de uma saudade
Que digladiará com os tempos vindouros
E que morrerá em prantos, como as paixões tristes
Para morrer nascidas no ardor da emoção.
"E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,"
Ouve, Amor, minhas preces de augusta esperança,
Embora minha voz esteja relegada
A ostentar a dolente ária do desamor.
Ouve, Amor, minhas preces de augusta esperança,
Mesmo que meu penar ofenda tua altivez,
Ou que me tenhas como peregrino indigno
Da tua graça, do teu favor, do teu mistério.
Ouve, Amor, minhas preces de augusta esperança!
Abraça-me com tuas asas de compaixão,
Purifica-me com o rubor de tua luz,
Dá-me alento com que eu continue a honrar
Esse pouco de vida que em mim persiste.
Ouve, Amor, minhas preces de augusta esperança!
"Roga a Deus, que teus anos encurtou
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou."


(Camões)


Ave, lírios dos campos que trazem no olor
A liberdade feito encanto e quimera!
Sabei que tenho um grande Amor que ausente está,
Em mim, causa da dor que humano algum conhece, Mas que revelará aos meus descendentes todos,
Como a visão de vós no limiar da vida,
Ou como vossas cores na tela dos sonhos, A beleza e a glória na imortalidade.
Ave, lírios dos campos de meu coração!
Da minha infausta vida a seiva vos oferto,
Ou o que nela houver que não sejam espinhos,
Que estes libertarão bem minha alma do corpo,
Perfurando a ferida de forma fatal,
Aquecendo com sangue a escultura do ser.
Ave, Senhora do meu coração!
Agora sim, em tua presença choro,
Que mais não há tanta lamentação
E minhas lágrimas a terra cobrem.
Sejam de Deus manifestação!
Sejam do Amor arauto, redenção!"

Sem comentários: