27/04/2002

Sobre Escrever

Aparece, de repente quando menos espero aquela súbita vontade de escrever. Não importa se escrever no papel é antiquado, eu gosto do cheiro do papel , da tinta, do deslizar da esferográfica, do desenhar das palavras.

Sim pode ser no papel, pode ser no computador desde que escreva. O que faz surgir essa vontade é até para mim um mistério. Um desabafo, um gesto, uma expressão, uma frase que faz com que me assaltem ideias e nasçam personagens por vezes sem rosto mas com alma. Curioso por norma só consigo dar título no fim. Pois no início tenho uma ideia e nasce algo completamente diferente.

Quando escrevi "Obsessão" queria escrever sobre alguém que não conhecia o significado da palavra perder, acabei por escrever sobre alguém que tinha a obsessão de não perder.

Para o tema "Pedra falsa",sentei-me em frente ao computador as ideias não saíam, as frases não surgiam e comecei a dizer : não consigo e.. comecei a escrever partindo da frase ”tu disseste que eu seria capaz” e o texto tomou vida própria. Quando terminei não sabia que título lhe dar, o computador escolheu. Por qualquer motivo guardou as últimas palavras que eu tinha escrito e ficou "Rocha Sedimentar"
.
Acontece-me muita vez um texto tomar via própria ao ponto de eu própria tentar interpretar porque escrevi o que escrevi. Lembro-me que quando alguém falou no processo criativo e dizia que tinha planeado do início o que ia escrever e os sentimentos que queria despertar. Eu pensei: “bem eu não devo ter processo criativo”. Eu imagino os cenários, os personagens , as emoções que quero despertar e não sei porquê os meus textos tomam sempre um rumo diferente do inicial. Outras vezes vou ao sabor "da pena" e acabo por ler o texto como se alguém mo estivesse a ditar e só depois tomo consciência do que escrevi. Penso se mais alguém será assim. Penso se será falta de disciplina ou se será esse o meu processo criativo. Talvez eu não saiba criar de outra forma.

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