31/05/2002

Uma Sombra

Uma vez por semana percorria o mesmo caminho. Houvera tempos em que o percorrera quase todos os dias. Passava por uma rua onde se destacava uma luxuosa boutique, cujos modelos despertavam os sentidos e aguçavam a imaginação daqueles que admiravam a montra.

Mais à frente passava pela padaria, onde a padeira gorda e bonacheirona, retribuía prazenteira os bons dias aos transeuntes. Aos poucos todos os troços do caminho iam ganhando vida, enchendo-se de gente num incessante corre-corre. O leiteiro, o carteiro, a peixeira, os donos da loja em frente aos correios, todos retomavam as suas rotinas. No entanto, ao fazê-lo, nos seus gestos, nas suas expressões, todos vislumbravam uma sombra de felicidade, prestando culto ao seu viver.

Como ela gostaria de fazer parte integrante desse quadro, que lhe avivava as mais diversas recordações. Quase à saída da vila, mudava de caminho, tomava um atalho e toda a paisagem mudava. O amontoado de casas, fervilhante de gente, agitação e barulho, dava agora lugar a uma paisagem onde as árvores eram a vida, e o silêncio quase inviolável.

Na floresta apenas ecoavam o barulho da cascata, numa melodia interminável e os trinados dos pássaros, que pareciam acompanhá-la com a sua canção.

Era aquele o seu passeio favorito. Caminhara todo o dia calmamente, como se quisesse absorver toda aquela vida.

O sol estava-se a pôr, em breve toda aquela magia desapareceria. Começava a escurecer, tinha que regressar. Apressou o passo. Não podia chegar atrasada, se o fizesse, o Guardião zangar-se-ia e seria proibida de dar o seu passeio por muito tempo. Tornou a apressar o passo contrariada. Tinha que regressar ao que era agora a sua morada, àquele cemitério enfadonho!

Flora Rodrigues1988

28/05/2002

Desejo de amar

Quero-te amar ...
mas não sei quem és
como posso então amar-te
se não sei quem és...

Quero-te guardar no meu coração
mas como posso fazê-lo
se não sei quem és
se não passas de uma ilusão

Ai!Eu quero-te amar!..
Mas como posso amar alguém
Se eu não sei o que é amar
e tu não és ninguém!

Flora Rodrigues 16/03/07
Escola de Ilusões

Numa escola de ilusões
inscrevi meu coração
aprendeu muitas lições
a maior:Desilusão!
E quando ano terminou
acabou por chumbar
porque ingénuo continuou
toda a vida a sonhar

Flora Rodrigues 16/03/87

24/05/2002

Para quem tem curiosidade em saber O que eles dizem, eles já disseram mais palavras da sua autoria.
Semanas complicadas com trabalho atrasado.Sou uma péssima gestora de tempo de trabalho.

22/05/2002

Terminei o conto Fragmentos!

21/05/2002

Que briga!O Blogger doido e eu aqui à briga com o meu template. Da última vez perdi alguns links que tinha no início, mas acho que vou conseguir consertar isso. E acho que os meninos vão gostar da pagininha deles. Espero bem pois estou a ter um trabalhão enorme.Mas vai ser um bom incentivo.Embora eu hoje tenha saído da escola tão zangada com eles que quase me arrependi. O que vale é que há sempre aqueles que fazem com que as coisas valham. o que me mais irrita é ver um menino inteligente a tirar más notas e a fazer disparates para ganhar o estatuto de heroi! Que valores têm essas crianças hoje?! Não ouvem pais. Não ouvem professores. Não ouvem ninguém. Só fazem disparates. Desperdiçam anos de infância a marcar passo. Estou muito triste com eles. Mas mesmo assim vou dar-lhes o direito à palavra:O que eles dizem... ganhou vida própria!
Uma vez perguntaram a Confúcio:
"O que o surpreende mais na humanidade?"


Confúcio respondeu:
"Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para a recuperar.
Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro.
Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido..."

19/05/2002

"Os primeiros três minutos de ontem sem “A”

Despertei com o seu beijo. Ergui-me e envolvi-o no meu corpo. Beijei-o com desejo. Ele retribuiu e despediu-se . Desejei-lhe tudo de bom e mergulhei de novo no meu ninho envolvente e quente e de novo o mundo dos sonhos preencheu o sentimento de destroço. De repente o sino soou. Desliguei-o com os olhos presos de sono. Iluminei o refúgio. Confirmei o tempo. 8h30 no relógio. Liguei o som. Dobrei os lençóis e voei do ninho. Ciciei sons que retive no ouvido, de modo que os sentidos estivessem em bom ritmo. Dirigi-me junto do postigo e espreitei o tempo. Por fim vesti-me e aceitei o jogo do tempo.

14/05/2002

Todas as semanas os meus alunos fazem duas composições. Uma de tema livre ,outra sobre um tema que lhes dou. Algumas das coisas que escrevem são bonitas e dão que pensar, por isso decidi inaugurar a secção "O que eles dizem".

"O que eles dizem"

  A minha Sombra fugiu

" A minha sombra fugiu de,
de noite, sem me aperceber
quando dei por ela,
tive muito que correr.

A minha sombra fugiu,
parecia uma fora da lei
apareceu uma autoridade
e logo a agarrei.

  A minha sombra fugiu
De avião para o Brasil
Coitada! Coitada, dela
Comia apenas bananas e caril!

A minha sombra fugiu,
Mas teve saudades minhas
P'ro pé de mim, voltou
Não queremos ficar sózinhas!"

Filipa Lopes 11 anos

13/05/2002

Dia das Mães

Dia da mãe aqui em Portugal onde me encontro foi dia 5 de Maio.
Dia das mães é algo de especial para as mães e para as crianças.Acho realmente bonito homenagear a figura da mãe tão especial. Mas eu fico sempre a pensar :como se sentirão as mães que perderam os seus filhos? Acho que para elas deve ser um dia difícil, pois ganhar o dom de ser mãe e perder um filho deve ser um golpe muito duro.

Sou professora e há muito que não festejo o dia das mães com as crianças. De há uns tempos para cá alguns meninos , respodiam-me que não tinham mãe , outros que não moravam com ela , outros que nunca a conheceram. A partir daí pensei : "para quê aumentar mais a dor das crianças?". Assim aconteceu muitas vezes também no Dia dos Pais. E quando as crianças vinham ter comigos desabafando a sua tristeza por estas situações optei por lhes dizer que nem sempre uma mãe ou um pai eram só aqueles que geravam vida, mas sim aqueles que nos acarinhavam, educavam , davam de vestir e de comer, aqueles que nos davam o seu amor sem pedir nada em troca.Por outras palavras dizia-lhes que era o dia de quem lhes dava amor.

Por vezes detenho-me a pensar que este mudo está trocado quantos filhos sem mãe e quantas mulheres com tanto amor para dar, que não tiveram uma oportunidade de ser Mães. Por isso fiquei bastante comovida quando cheguei na Blogueira dos "enta"esta frase fabulosa: "Feliz dias das mães, ou de quem tem amor para dar." E eu acho que devia ser mesmo assim que devíamos chamar ao dia. O "Dia das mães e de quem tem amor para dar".
Já descobri o mistério não foi o Vítor Andrade que em enviou a História de Shaya mas sim a minha amiga do coração Fátima que usou o mail do Vítor para me enviar a História e não assinou, pois o importante era a mensagem e não quem a mandava.

09/05/2002

Estou ainda a tentar descobrir se conheço o Vítor de Andrade de algum sítio que não me lembro. Acho que me escreveu por engano,não sei bem como .Mas por engano ou não, a história que ele me enviou é linda e dá que pensar. Passo então à história da qual não conheço o autor, porque me foi enviada sem qualquer referência ao autor:

" De vez em quando é bom ler algo que dê para reflectir um pouco.

Em Brooklyn, Nova Iorque, Chush é uma escola que se dedica ao ensino de crianças deficientes. Algumas crianças permanecem em Chush por toda a vida escolar, enquanto outras podem ser educadas em escolas normais.
Num jantar beneficente de Chush, o pai de uma criança fez um discurso que nunca mais será esquecido pelos que estavam presentes.
Depois de elogiar a escola e seu dedicado pessoal, clamou ele: "Onde está a perfeição no meu filho Shaya? Tudo o que Deus faz, é feito com perfeição. Mas o meu filho não pode entender as coisas como outras crianças entendem. O meu filho não pode lembrar-se de factos e números como as outras crianças. Onde está a perfeição de Deus?
Estavam todos chocados com a pergunta, com o sofrimento do pai.
Ele continuou: "Eu acredito, que quando Deus traz uma criança assim ao mundo, a perfeição que ele busca está no modo como as pessoas reagem a esta criança".
Ele contou então a seguinte história sobre o seu filho Shaya.

Uma tarde Shaya e eu caminhávamos por um parque onde algumas crianças que Shaya conhecia jogavam "basebol". Shaya perguntou-me, acha que eles me deixam jogar? Eu sabia que o meu filho não era atlético que a maioria das crianças não o queriam na equipa. Mas entendi que se o meu filho fosse escolhido para jogar, lhe daria uma confortável sensação de participação.
Aproximei-me de uma das crianças no campo e perguntei se Shaya poderia jogar. A criança olhou à sua volta procurando por aprovação dos seus companheiros de equipa. Mesmo não conseguindo nenhuma aprovação, ele assumiu a responsabilidade em suas próprias mãos e disse: "Nós estamos a perder por seis rodadas e o jogo está na oitava rodada. Eu acho que ele pode estar na nossa equipa e nós tentaremos colocá-lo para bater até à nona rodada".
Fiquei excitado quando Shaya abriu um grande sorriso.
Pediram a Shaya para vestir uma luva e ir para o campo para jogar. No final da oitava rodada, o time de Shaya marcou alguns pontos mas ainda estava perder por três. No final da nona rodada, o time de Shaya marcou novamente e agora com dois fora e as bases com potencial para a rodada decisiva, Shaya foi escolhido para continuar. A equipa deixaria Shaya de facto bater nestas circunstâncias e perder a oportunidade de ganhar o jogo?
Surpreendentemente, foi dado o bastão a Shaya. Toda a gente sabia que era quase impossível porque Shaya nem sequer sabia segurar o bastão. Porém, quando Shaya tomou posição, o lançador moveu-se alguns passos para arremessar a bola suavemente de maneira que Shaya pudesse ao menos bater.
Foi feito o primeiro arremesso e Shaya balançou desajeitadamente e perdeu. Um dos companheiros da equipa de Shaya foi até ele e juntos seguraram o bastão e encararam o lançador. O lançador deu novamente alguns passos para lançar a bola suavemente para Shaya. Quando veio o lance, Shaya e o seu companheiro de time balançaram o bastão e juntos bateram a lenta bola do lançador. O lançador apanhou a suave bola e poderia tê-la lançado facilmente ao primeiro homem de base. Shaya estaria fora e isso teria terminado o jogo. Ao invés, o lançador pegou a bola e lançou-a numa curva longa e alta para o campo, distante do alcance do primeiro homem de base. Toda a gente começou a gritar: "Shaya, corre para a primeira base.

Corre para a primeira".

Nunca na vida dele ele tinha corrido... Ele saiu disparado para a linha de base, com os olhos arregalados e assustado. Até ele alcançar a primeira base, o jogador da direita teve a posse da bola. Ele poderia ter lançado a bola ao segundo homem de base que colocaria Shaya fora, pois ele ainda estava a correr. Mas o jogador entendeu quais eram as intenções do lançador, assim ele lançou a bola alta e distante, acima da cabeça do terceiro homem de base. Todos gritaram:
"Corre para a segunda, corre para a segunda". Shaya correu para a segunda base enquanto os jogadores em frente dele circulavam deliberadamente para a base principal. Quando Shaya alcançou a segunda base, a curta parada adversária, colocou-o na direção da terceira base e todos gritaram:
"Corra para a terceira". Quando Shaya contornou a terceira base, os meninos de ambas as equipas correram atrás dele gritando, "Shaya corre para a base principal".
Shaya correu para a base principal, pisou nela e todas as 18 crianças o ergueram nos ombros fazendo dele o herói, como se ele tivesse vencido um campeonato" e ganho o jogo para a equipa dele. "Aquele dia," disse o pai docemente com lágrimas caindo sobre sua face, "essas 18 crianças alcançaram a perfeição de Deus". Eu nunca tinha visto um sorriso tão lindo no rosto do meu filho!

Engraçado como isto é tão verdadeiro e nos envergonha a todos!
Engraçado como se podem enviar mil piadas por e-mail e elas se espalham como fogo, mas quando você começa a enviar mensagens sobre algo bom, as pessoas pensam duas vezes antes das partilharem.
Engraçado como a indecência, as coisas grotescas, vulgares e obscenas cruzam livremente o ciberespaço, mas quando for passar esta mensagem, não a envia para muitos da sua lista de endereços, porque não estará seguro do que eles acreditam, ou o que eles pensarão de si por lhes enviar isto.
Engraçado como uma pessoa pode preocupar-se mais sobre o que as outras pessoas pensem dela do que o que Deus pensa dela.
Engraçado não é?
Entretanto algumas pessoas não se preocupam com as outras; só com elas próprias!
Vamos todos ter a esperança que nós podemos fazer a vida um pouco melhor para as pessoas que não estão tão bem quanto nós. Tudo o que é bom... dura o tempo suficiente para ser inesquecível...."


06/05/2002

Anjos são mesmos seres privilegiados pois a sua imaginação tem asas e leva-os até onde quiserem chegar.
A Miriam tem imenso talento para brincar com palavras e fazer poesia. Não resiti a trazer com a sua autorização essa rima para a minha caixinha.



Rima Avulsa

Preparei uma rima

mas caiu lá de cima

e não deu pra pegar

nem pra tentar arrumar.

Por que rima incerta

não se acerta

em nenhum lugar.

Míriam I. C. Salles

05/05/2002



O Poema à Mãe:
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha ? queres ouvir-me? ?
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda ouço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio de um laranjal...

Mas ? tu sabes ? a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade In Os Amantes sem Dinheiro (1950)

04/05/2002


Canção da Meia - Noite

Eu sou onda do mar
Que conta as rochas
Vai rebentar
Eu sou gota de água
Que ao rio vai parar
Eu sou brisa passageira
Sou perfume efémero no ar
Sou ave que esqueceu de voar
Eu sou a noite ligeira
Que se esqueceu de acordar
Sou o sol que se esqueceu de brilhar
Sou labareda de fumo
Que se espalha no ar
Sono que se esqueceu de sonhar
Vida que se esqueceu de viver
Lágrima que não quis cair
Fonte que se esqueceu de jorrar
Sou sol, sou nuvem no céu a brincar
Sou apenas
Vento que vai a passar

03/05/2002

Finalmente chegara a casa. Tirei o casaco, pousei as minhas coisas e fui lavar as mãos. Depois dirigi-me à cozinha e vi que ela permanecia ali fresca e viçosa. Desafiando-me os sentidos com as suas formas curvilíneas.

Apetecia-me tocá-la , sentir a textura da sua pele nas minhas mãos, sentir as suas formas curvilíneas por um breve momento e depois saboreá-la lentamente.

Não resisti e agarrei-a!
Sentia agora a textura da sua pele entre as minhas mãos. Como era macia a sua pele! Sentir as suas formas aguçava-me a imaginação e despertava-me com mais intensidade a vontade de a saborear. Por fim cedi à tentação, encostei-a aos meus lábios e mordi-a . Saboreei cada pedaço lentamente para não me esquecer do seu sabor.

Ah! Como me soube bem aquela fresca, sumarenta e deliciosa pêra!

01/05/2002

" Amanhã é um novo dia !" A minha frase preferida inicia o Mês de Maio.