25/01/2009

V Capítulo Filha de Safira 2ª parte

-Eu não te quis magoar Pandora, nem duvidei da tua honestidade. Confesso que queria perceber se não era apenas fascínio que sentias e queria mesmo estar contigo na cascata, só pelo prazer de ter a meu lado. Perdoas-me? A humildade de um deus como Hipnos aplacou a minha ira. - Voltaremos a ver-nos? – Perguntei, mas não tive tempo de obter resposta, pois só me lembro de me sentir tonta e Hipnos segurar-me nos seus braços e de seguida tudo ficou escuro para mim. Quando voltei a abrir os olhos ainda estava meia confusa e via tudo um pouco enublado, de início pensei que ainda estava nos braços de Hipnos, mas era Morpheu quem me carregava ao colo. Pedia-me carinhosamente que não dissesse nada e acariciava-me o rosto com beijos suaves, devagar, calmamente com uma voz serena., como se me quisesse tranquilizar ia explicando: - Desmaiaste na caverna de Hipnos, que logo me chamou em teu auxílio. Não te conseguíamos fazer voltar a ti. Achamos que estás fragilizada por tudo o que tem acontecido, mas que já cá tinhas chegado muito frágil. Mas brevemente te recuperarás Só precisas de comer e repousar. Levou-me aos aposentos do seu palácio onde as paredes eram de cristal mágico, permitindo que víssemos de dentro para fora, mas que ninguém nos conseguisse ver de fora para dentro pois ficavam ofuscados pelo brilho. Morpheu meigamente me pousou na cama nuvem e me aconchegou: - Volto já. Vou pedir que te façam algo para comeres… - Não. -Pedi eu. Fica comigo. Não me deixes só agora. Não quero comer nada agora. -Tens a certeza que não queres comer? Respondi que sim, que só precisava de descansar e senti-lo a meu lado para que eu, me pudesse sentir segura. Queria sentir a beleza do seu olhar, sentir o toque suave do seu corpo perto de mim, o som melodioso da sua voz que me trazia sentimentos contraditórios: ora me serenava, ora me prometia aventuras inconfessáveis. Supliquei-lhe que não deixasse só. Então pegou na sua flauta cujo som mágico me fez sentir uma felicidade imensa e pouco antes de cerrar os olhos, senti o abraço quente e aconchegante de Morpheu e lembro-me de lhe ter dito: - Se isto é um sonho, então eu não quero que ele acabe nunca! Cerrei os olhos e mergulhei num sonho fantástico. Por uma noite nenhum mortal além de mim, sonhou. Contudo quando acordei estava sozinha nas nuvens aconchegantes do palácio de Morpheu. A carruagem de Eos há muito que fizera a sua passagem e Hélios o sol brilhava intensamente iluminando o reino de Morpheu. Chamei-o, mas não obtive resposta. Tentei levantar-me, mas ainda me sentia muito fraca e caí ao andar sobre o chão de nuvens do palácio de Morpheu. Uma dor intensa impedia-me de me levantar. Arrastei-me até a cama e gritei por Morpheu.

07/01/2009

V Capítulo- Filha de Safira

Morpheu quebrou o silêncio com a voz trémula como se sentisse hesitante, desconcertado, desorientado. -Achas que eu não saberia? …. -É possível. Se ela própria não o soubesse…. -Mas alguém me daria a notícia da sua perda ou do seu eventual nascimento, não achas?. -Tu devias saber que nos nossos domínios tudo é possível.. -Aonde pretendes chegar com isto? O que insinuas?. -Nenhum de nós é cego para não ver as semelhanças entre esta tua nova protegida que por acaso tem nome de Deusa, e aquela que em tempos conquistou o teu coração, a Safira…. -Sabes que eu encerrei esse capítulo da minha vida. Perdi Safira para sempre e gostaria que o assunto ficasse por aqui.. -Mas deixa-me terminar, não te intriga que a mãe de Pandora se chamasse Safira e tivesse morrido de doença prolongada?. -Como sabes isso?. -Foi ela própria que me que me contou.. -Isso só quer dizer que provavelmente ela é filha de Safira. Não tem de ser necessariamente minha, nem tua…. - Sabes muito bem que nunca me envolvi com Safira.. No meio desta conversa, até porque já me começava a irritar ignorarem que eu existia, e apesar de não ser nenhuma Deusa , não era surda, decidi interrompê-los:. -Desculpem meus senhores, mas acho que vos posso esclarecer a vossa dúvida. Segundo a minha mãe chamava-se Ícaro e faleceu de acidente quando eu tinha três anos. A minha mãe tinha fotografias dele espalhadas por toda a casa. Como vêem, era simples terem a resposta, bastava perguntarem-me. Agora se sou filha da Safira que vocês conheceram também não vos sei responder.- Ambos se calaram me fitando um pouco envergonhados por falarem de mim como alguns adultos falam das crianças na sua presença, como se as ignorassem.. . Fantasia estava perdida de riso pela figura de patetas que achava que ambos tinham feito.. No entanto embora ambos tivessem pedido desculpa por não me perguntarem. Tornei a ter a impressão de uma estranha troca de olhares entre eles como se algo ainda pudesse não bater certo.. Foi Morpheu quem de novo quebrou o silêncio:. - Está na altura de partir. – estendeu-me a mão e perguntou:. -Sempre vens comigo?. -Sim respondi serenamente, mas gostaria de fazer uma pergunta a sós a Hipnos.. - Então sê breve por favor. – E dizendo isto, Hipnos abraçou Morpheu e Fantasia que saíram de seguida, ficando a aguardar por mim à entrada da gruta.. Nessa altura não consegui conter a raiva que sentia por Hipnos me ter posto à prova:. - Defender-me-ias na Cascata? Ou deixarias que eu morresse? Ou ainda era tua intenção desmascares-me e mostrar a Morpheu o quanto lhe és superior por seres mais esperto do que ele que confiou numa simples mortal como eu? Honestamente qual era a tua ideia, desculpe, a sua ideia, diviníssimo Hipnos? - Perguntei com ironia sentindo uma raiva ainda maior por continuar a sentir aquela atracção magnética, que me fazia desejar jogar-me nos seus braços. Mas a raiva de me sentir traída desta vez impedira-me de me voltar aproximar.. Hipnos baixou os olhos como se estivesse arrependido limitando-se a responder:. -Desculpa, não tinha intenção de te magoar e mesmo que eu estivesse errado sobre ti, proteger-te-ia. Cumpriria a promessa feita a Morpheu. Mas…. -Mas o quê? - Perguntei intrigada e impaciente por saber que Morpheu e Fantasia me aguardavam. (Continua)